... não contemplas com verdadeiro contemplar o que à tua volta está? Aquele sentimento de estar presente sem dispersar com solicitações, notificações. Seja a contemplar o oceano; o céu; a chuva; um inseto que por ti passa; ou o vazio. Sem aquele nervoso miudinho de ter de ir fazer alguma coisa.
As tecnologias são uma maravilha, sou fã incondicional, mas contudo, e facilitando o nosso trabalho muitas vezes, também nos acrescem afazeres a toda a hora, pois o smartphone no nosso bolso não tem hora de descanso nem de contemplação e a qualquer momento nos lembra que temos mil e uma coisas para concretizar, para conquistar. E assim fomos perdendo, muitos de nós, e acredito sem dúvida que seja a vasta maioria, aquela capacidade de a qualquer momento podermos parar e contemplar algo simplesmente pelo prazer de contemplar, pelo gosto de em determinado momento o que temos melhor a fazer é não fazer nada.
Até ao raiar do ano 2000 a espera era muitas vezes recheada de ampla contemplação, fosse essa espera numa fila de supermercado, fosse à porta de um amigo enquanto o aguardávamos, ou simplesmente numa pausa entre afazeres. Hoje não, hoje qualquer momento de pausa é imediatamente aniquilado pelo sacar do telemóvel e pela divagação entre emails, notificações das redes sociais, ou jogatana desenfreada, com todas as possibilidades que a Internet no bolso de cada um veio oferecer.
A minha sugestão é estar mais consciente de cada momento e minimizar ao máximo o uso desnecessário do ecrã, que nos torna em certa medida obtusos, quando é em demasia. E contra mim falo. Talvez este texto seja exatamente isso, uma alerta a mim mesmo.
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